segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Suiça - A contradição dentro da contradição


A Suiça, particularmente a Suiça francófona é assim uma espécie de metáfora da contradição: simultaneamente xenófoba e internacionalista, humanitária e militarista, provinciana e cosmopolita...
Um país construído com a lógica do capitalismo mais que selvagem, onde a industria mais rentável é a especulação financeira. Onde o sigilo bancário é tido como um dos factores de desenvolvimento económico e permite que as contas de ditadores e corruptos do mundo inteiro cresçam e progridam. Onde, em algumas zonas, a tradição proíbe o voto às mulheres. Onde há bancos tão restritos que funcionam com três quatro contas. Onde o serviço militar é obrigatório a todos os homens entre os 18 e os 48 anos. Onde a industria de guerra para exportar é tão reconhecida que ainda hoje o papa vive guardado por mercenários suíços...
O outro lado da moeda mostra-nos uma Suiça que é também a pátria de todos os exilados. Foi na Suiça que Lenine teve oportunidade para teorizar e escrever importantes obras sobre aplicação prática de marxismo. É na Suiça que está a sede das Nações Unidas. Foi na Suiça que se inventou a Cruz Vermelha. Foi aqui que se criaram leis humanitárias para impor na guerra. Mais de 60% da população são emigrantes. Foi em Genebra se que inventou o conceito da tolerância religiosa com Calvino. É na Suiça que o comportamento cívico e de cidadania cria as melhores condições de qualidade de vida urbana mundial, reconhecida nos índices comparativos das cidades…
Creio que é em Calvino, que a Suiça, particularmente Genebra vai buscar esta sua marca.
O calvinismo, na sua moral do trabalho e da religião vivida no mais profundo individualismo, não só aprova como também incentiva o capitalismo no sentido em que valoriza o trabalho indivual para a acumulação de dinheiro e a criação da riqueza pessoal… No entanto é o próprio Calvino diz que: "a riqueza não tem razão de ser se não para ajudar aos que necessitam" e critica a avareza ao dizer que o fruto do trabalho só é digno se útil ao próximo. Esta projecção de uma moral de cariz caritativo continua a estar presente no capitalismo suíço: os bancos suíços fazem fortunas com os juros do dinheiro dos ditadores corruptos do terceiro mundo, mas cedem uma (pequena) parte dos seus lucros para receber os exilados vitimas desses mesmos ditadores…Os grandes joalheiros compram diamantes de sangue, mas continuam a financiar projectos humanitários…
De facto, na Suiça há sempre dinheiro para o financiamento de actividades culturais de cariz humanitário.
A provar esta abertura para uma "cultura humanitária" no início deste Março, temos o Festival de Cinema e Fórum sobre os Direitos do Homem. Cinema e conferencias sobre direitos humanos onde realizadores, actores, e personalidades destacadas na luta pela paz e pelos direitos do Homem se encontam.
Para quem gosta de ver filmes que são feitos fora dos modelos de hollywood, este festival abre uma janela para o cinema africano actual que justifica a escapadinha até esta “Europa a sério”… que agora com a easyjet fica um bocadinho mais perto….
http://www.fifdh.org/index.html